segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Riso dos Outros

"O humor dialoga com o preconceito das pessoas.O humor pra se realizar, precisa falar a mesma linguagem, todos alí que estão partilhando..., seja o comediante ou o contador de piada, ele precisa partilhar com sua plateia de um repertorio de conceitos... que são preconceitos, são conceitos prévios. Sem essa partilha não se realiza o humor" Laerte

Dentro da escola o humor está presente a todo instante, e é o básico que pode acontecer a reunir todos os dias, dentro de uma mesma sala 30, 40 ou 50 pessoas diferentes. Ela farão piadas, darão apelidos umas as outras e contarão muitos 'causos'. Mas e quando uma piada só tem graça para algumas pessoas? E quanto alguém se sente ofendido com uma piada, um apelido? E quando esse sentimento de ofensa é diário, cotidiano, durante meses e até anos? Qual a responsabilidade que temos sobre isso? 



As perguntas só começam: Existem limites para o humor? O que é o humor politicamente incorreto? Uma piada tem o poder de ofender? 


São essas questões que o O Riso dos Outros discute a partir de entrevistas com personalidades como os humoristas Danilo Gentili e Rafinha Bastos, o cartunista Laerte e o deputado federal Jean Wyllys, entre outros. 


O documentário mergulha no mundo do Stand Up Comedy para discutir esse limite tênue entre a comédia e a ofensa, entre o legal e aquilo que gera intermináveis discussões judiciais.
Para além de uma dicotomia do humor politicamente incorreto e uma vida sem graça, o documentário também traz a opinião de humoristas que optam em ir além, e fazer um humor que não fique na mesmice.



O filme foi dirigido por Pedro Arantes, diretor de séries de humor como "As Olívias", do canal Multishow, e "Vida de Estagiário", da TV Brasil.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Meu corpo daria um romance - Hebert Daniel


página 47

DOIS - genytalia.

"As coisas estão cheias de deuses" Thales de Mileto


CORPO A CORPO, esbarrei com a vida, ali e já, em onze divisões de coisa ou caso.
Troquei com meu namorado um beijo na boca, de amigo a amigo – uma desobediência. Mas intencional. Viro diversão pública para os machos do ônibus, onde entro primeiro assustado, depois irritado. Irrito-me porque não tive intenção de desobedecer. Fico envergonhado de não ter peito para desobedecer também assim, com beijos, e segurar as pontas. De toda forma, provoquei também ingenuamente um escândalo em Copacabana e na madrugada da Ordem.
Não, argumentei comigo – já que procurava lógicas e desculpas. Não foi um beijo estrondoso. Não havia nele nem agressão, nem mesmo atrevimento. Ele não se queria um ato público ou uma declaração de princípios ou uma petição de renovação. Simplesmente se queria beijo, somente carinho, coisa de um amor qualquer amor.
Paguei, atravessei a roleta, dei uns passos procurando um raro banco que de preferência fosse esconderijo. Os olhos me interrogavam? Me acusavam!
Insuportável é o olhar do outro que te torna outro grotesco. Insurportável é o olhar que te cerca no descampado da calamidade da tua diferença. Insuportável é o olhar da inquisição. E demorei o tempo de uma piscadela para me dar conta do estranho que eu era, do flagelado que me fazia. Por causa de um beijo.
Objeto de uma violência em potência, atravesso o corredor polonês até o assento que escolhi num passeio nervoso como uma troca de ódios. Estou cheio de ódio. Nada pode ser pior do que a vivenciação personificada do arbítrio e do preconceito em cima de um só, que não encontra meio de resposta. A lei que nos segue, estamos em cada ato fornecendo argumentos à nossa defesa ou inculpação. Jamais vivemos, criamos álibis. Mais ainda, havia o clima interno e externo, abafado e tocaiado. Prestes ao salto da ira, da fome, da vingança ou do mero berro.
Não se pode chegar à revanche do preconceito a não ser levando-o ao extremo: à destruição mesma do objeto do preconceito. Não queria me aniquilar. Esvaziei-me, por autoproteção, do impulso vingativo. Nenhuma vingança resolve. Preferi me refugiar na eloquente aspiração de justiça. Assim podia me limpar um pouco do ódio.
Escolhi o banco onde me instalei por instinto de preservação, já que vocês dois ostentavam nas camisetas indícios de uma ideologia que me parecia protetora. E foi pior, porque me senti cercado, vigiado. Traído.
A flor reativa de uma vergonha inspirou-me a vontade covarde de coçar o saco, cuspir de lado, qualé meu, pô, tá me confundindo, pisar tomp-tomp até pros – e nos – meus primos da tribo, dita Esquerda. Meu saco, ó, taqui na esquerda, pega na boneca, vê, saco de macho, morou?
- Vi...a...dô!...
Perguntei-me, refeito da floração de bobo irado, na necessária busca de mim em consciente: o sexo se usa à esquerda? De fato si: genitalmente o saco se esgueira para a canhota. Mas e à Esquerda? Há um futuro em preparação  no sexo? Que séquisso.
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